Ter uma atitude de gentileza faz bem para o mundo e, principalmente, para quem pratica.

Se há algo com o que tem me proporcionado um profundo inconformismo é a falta de gentileza e amorosidade que estamos vivenciando no mundo. É um “salve-se quem puder” em todos os aspectos de nossas vidas. No trânsito, nas relações de trabalho e até mesmo nas relações familiares e nas amizades. Qual foi a última vez que você realmente ouviu um amigo sem estar olhando no celular ou pensando no próximo compromisso que você terá no dia. Estamos nos desconectando de nossa essência e isso é extremamente perigoso! Afinal, sem amor e gentileza a humanidade só irá regredir!

E é por isso que eu lhe pergunto: você é gentil? Sabe realmente o que significa gentileza? Muita gente confunde ser gentil com noções básicas de educação formal. “Sou gentil porque dou o meu lugar para uma pessoa mais velha se sentar. Sou gentil porque cumprimentei meu vizinho no elevador pela manhã…” Claro que essas atitudes são atos de gentileza, mas a essência do sentimento vai muito além de algumas ações formais e automáticas.

Gentileza é a qualidade do que é gentil, do que é amável. Gentileza é uma amabilidade, uma delicadeza praticada pelas pessoas. É uma forma de atenção e de cuidados que torna os relacionamentos mais humanos e menos ríspidos. Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente, e sim, cuidadosa, distinta e delicada.

Vivemos em um mundo altamente competitivo. Competimos no trabalho, por espaço no trânsito, por atenção nas redes sociais. E assim, vamos nos distanciando da preocupação com o outro, das noções básicas de empatia e gentileza.

No entanto, podemos sempre nos reconectar com esse sentimento. Não é algo simples, mas que, ao fazermos, trazemos enormes benefícios para as nossas vidas e para aqueles que nos rodeiam.

E é isso que vamos abordar neste artigo! Faz a gentileza de me acompanhar?

Correria e competitividade não são opostos da gentileza

Somos seres conectados e interativos. Estamos todos os dias e todas as horas em constante interação e, hoje, por meio das ferramentas de mídias sociais e de comunicação on-line, somos capazes de estar em contato com as pessoas das mais variadas localidades. Porém, apesar dessa constante interatividade, o que vemos é que as relações interpessoais próximas parecem cada vez mais superficiais, e, consequentemente, palavras como cortesia, empatia e amabilidade afiguram-se mais distantes de nossa realidade.

A impressão que nos fica é que a vida moderna, repleta de competitividade e escassa de tempo, dificulta as relações de gentileza e delicadeza. Afinal, como ser gentil enquanto enfrentamos o trânsito caótico das grandes cidades?  Como ter tempo e paciência para ouvir o outro em um dia a dia tão cheio de tarefas e obrigações?

Para reforçar essa imagem, no meio corporativo, muitas vezes, atitudes duras e arrogantes são até consideradas necessárias para alcançarmos o respeito profissional. Em um mundo cada vez mais apressado e competitivo, é comum as pessoas acreditarem que a agressividade é o caminho mais rápido para o sucesso.

Mas será que atitudes arrogantes e agressivas conquistam a confiança alheia e garantem o sucesso em longo prazo?

No livro “O Poder da Gentileza”, Linda Kaplan Thaler e Robin Koval mostram que não. Executivas de uma das mais prósperas agências de publicidade dos Estados Unidos, elas descobriram cedo que ser gentil é tão importante quanto ser eficiente.

É claro que amabilidade apenas não basta, pois trabalho duro, inteligência e talento também são essenciais.  Contudo, segundo as autoras, ser delicado e atencioso, em vez de egoísta e grosseiro, pode impulsionar sua carreira muito além do resultado mais imediato e mais importante: tornar a vida de todos mais agradável.

A partir de exemplos reais, a obra analisa o impacto positivo que a gentileza tem para cada um de nós, bem como as vantagens empresariais de se adotar uma cultura da simpatia, com menor rotatividade, menores custos de recrutamento e maior produtividade. Ser gentil é bom para você!

E tratar bem as outras pessoas não é apenas um ato de educação ou uma vantagem profissional. É algo que também é bom para sua saúde e sua vitalidade.

Pelo menos é o que afirma a pesquisadora de psicologia, Barbara Fredrickson, autora do livro Love 2.0: Transformando Felicidade e Saúde em Momentos de Conexão. Ela estuda como os “micromomentos” de conexão com os outros, como compartilhar um sorriso ou expressar preocupação, melhoram a resiliência emocional e reduzem a susceptibilidade à depressão e à ansiedade.

Na visão de Fredrickson, nossas psiques precisam de conexão humana afirmativa da mesma forma que nossos corpos precisam de alimento saudável.

“Momentos de elevação e emoções positivas funcionam como nutrientes para a criatividade, crescimento e saúde”, diz.

Por isso, ao sermos gentis e buscarmos a empatia e a amorosidade em nossas relações, estamos fazendo bem para nós mesmos!

Estudo realizado pela professora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, demonstrou que a gentileza pode nos deixar mais felizes. Ela pediu a um grupo que praticasse atitudes gentis durante dez semanas e verificou que a felicidade aumentou consideravelmente no período do estudo.

Isso porque a gentileza está ligada ao gene que libera a dopamina, o neurotransmissor que proporciona bem-estar. Por isso, aqueles que ajudam os outros regularmente têm mais saúde mental e menos depressão. Pessoas solidárias têm menos probabilidade de sofrer de doenças crônicas, e seu sistema imunológico tende a ser melhor, pois existe uma relação direta entre bem-estar, felicidade e saúde.

Pessoas gentis não são individualistas, respeitam o trabalho do colega, razão pela qual chegam mais longe, já que abrem caminhos de comunicação com os outros e se tornam mais acessíveis.

E agir assim pode ser muito mais fácil do que parece. Afinal, ao contrário do que muitos pensam, a gentileza não é uma escolha, mas sim, um instinto natural do ser humano.

Uma teoria publicada pelo professor Sam Bowles, do Instituto Santa Fé (EUA), chamada de “sobrevivência do mais gentil”, afirma que a espécie humana sobreviveu graças à gentileza. Segundo Bowles, os grupos altruístas cooperam e colaboram mais para o bem-estar do próximo e da comunidade, a fim de garantir a sobrevivência.

Por outro lado, as pessoas aprendem a ser egoístas e escolhem esta atitude em determinadas situações.

Um dos principais exemplos disso é um experimento realizado em 2012 por professores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Com o objetivo de descobrir se a natureza humana é egoísta ou gentil, os pesquisadores recrutaram universitários e os dividiram em grupos de quatro. Cada estudante recebeu uma quantia de dinheiro e teve a opção de separar um pouco do valor para ser multiplicado e distribuído entre o restante dos participantes. Os participantes ganhariam algo, mesmo sem compartilhar, mas, apesar da tentação de ser egoísta, a maioria das pessoas escolheu por contribuir com o restante.

A gentileza vai além:  em um estudo realizado por psicólogos da Universidade Yale, nos Estados Unidos, afirma-se que o primeiro instinto das pessoas é cuidar e salvar os outros. Os pesquisadores entrevistaram várias pessoas que tinham se arriscado por desconhecidos. “A maioria das pessoas acredita que somos instintivamente egoístas, mas nossos experimentos mostram que, quando as pessoas dependem de seus instintos, elas são mais cooperativas”, explicou o psicólogo David Rand, de Yale.

Os pesquisadores sugerem ainda que o egoísmo se evidencia quando as pessoas param para pensar antes de tomar uma atitude. Ou seja, a gentileza faz parte do instinto, o egoísmo é uma escolha.

Mas, se ser gentil é nosso instinto, por que observamos cada vez menos atitudes de amorosidade?

A resposta pode estar em mecanismo do nosso cérebro que contém um viés de negatividade.

Para nos proteger do perigo que nos espreita diariamente, seja pela violência das grandes cidades, ou pela competitividade extrema, nosso cérebro mantém nossos comportamentos de sobrevivência primários rotineiramente acionados. Desse modo, vivemos em um estado de escassez fundamental, que nos impele a uma tendência de autofoco. Nós começamos a acreditar no “sou eu ou eles.” Todo o tempo.

Sob este tipo de pressão, a própria ideia de ser gentil – manter as necessidades e sentimentos dos outros em mente, mostrando cuidado e empatia – pode começar a parecer um luxo ou até mesmo tolice.

Felizmente, porém, podemos cortar essas tendências automáticas construindo conscientemente novos hábitos mentais. “O cérebro tem a habilidade maravilhosa de tornar as coisas automáticas”, diz o PhD no tema, o psicólogo Elisha Goldstein. “Quando você tem consciência de que você quer ser gentil, e então você pratica, você está essencialmente reconectando a parte compassiva de sua mente.”

E é exatamente o ato de se concentrar nos outros o que pode reduzir nossas ansiedades e nos tirar desse estado de alerta constante.

Portanto, se começarmos a pensar mais no outro e menos em nós mesmos, vamos nos conectar com aquele instinto mais primitivo de sobrevivência do mais gentil e passar a viver com menos ansiedade e estresse. E os frutos dessa atitude só tendem a melhorar e beneficiá-lo, explica Goldstein.

“A bondade fica mais fácil com a prática.” Quando somos bons com os outros, diz Goldstein, nossos hábitos mentais de escassez, negatividade e rigidez começam a mudar. Tornamo-nos cada vez menos preocupados em obter nossa parte e mais interessados em ajudar os outros.

Faça o teste! Pratique a gentileza e você verá que todo o carinho e afeto que você proporciona voltam em dobro para você mesmo!

O vírus contagioso da gentileza

 Com certeza você já deve ter ouvido o ditado –  gentileza gera gentileza. E é exatamente nisso em que acredito! Vejo que a gentileza é como um “vírus” contagioso do bem: quanto mais gentis somos, mais nossa vida fica melhor e mais alegre, e mais pessoas ao nosso redor passam a agir da mesma maneira!

Ser gentil é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. É uma atitude muito mais sofisticada e profundada que ser educado. Conheço muita gente que segue todas as regras de etiqueta e de educação em um jantar sofisticado, mas que é incapaz de dar um sorriso sincero ao manobrista, no momento de pegar o carro. Ser gentil tem ligação com o caráter, com valores e ética.

Pessoas gentis tentam se colocar no lugar do outro, são bons ouvintes e praticam a arte da paciência. Além disso, são capazes de pedir desculpas, quando descobrem que erraram, são solidárias e companheiras. Procuram analisar as situações e serem justas. São capazes de resolver muitos conflitos, somente com seu jeito de ser.

Quem é verdadeiramente gentil o é em casa com seus familiares, com seus amigos, com seu chefe, mas também com subalternos. Ser gentil só com quem pode lhe proporcionar algo em troca não é gentileza, é interesse!

Dizem que o favor é feito com o cérebro, e a gentileza com o coração, ou seja, ser gentil não é um gesto planejado.

Seja gentil com as pessoas, e elas, provavelmente, serão gentis com você também. Como disse Shakespeare: “Eu aprendi que ser gentil é mais importante do que estar certo”.

Eu realmente acredito no poder da gentileza e busco praticá-la todos os dias da minha vida. E percebo como um simples sorriso tem o poder de realizar mudanças! Por isso, agora lhe lanço um desafio. Ao longo do dia, elogie alguém que trabalha com você e fez um bom serviço, abrace com força e carinho seu par, filhos ou pais, ouça com atenção quando alguém lhe procurar com um problema.  Pratique a empatia e a gentileza!

E é por acreditar no poder transformador da gentileza lhe convido a praticarem essa atitude, levando uma vida com mais amorosidade e atenção ao próximo. Tente fazer isso ao menos por uma semana e verá os resultados maravilhosos que vai colher em sua vida!

Fonte | Renata Spallicci

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