Doença pode ser transmitida pela gestante ao bebê, causando problemas como aborto, nascimento prematuro, baixo peso, surdez e alterações ósseas

A sífilis, uma doença de séculos passados, retornou com força total e vira epidemia mundial. No Brasil, os patamares elevados dos casos provocaram uma resposta nacional rápida do governo e da sociedade em geral, segundo informações da Fundação Norte Rio-grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC). De acordo com o Boletim Epidemiológico sobre a doença no Brasil, em 2017 foram registrados 119.800 casos de sífilis adquirida, 49.013 casos de sífilis em gestantes e 24.666 casos de sífilis congênita (quando a doença passa da mãe para o bebê).

A sífilis congênita é transmitida para o bebê em qualquer fase da gestação. De forma mais rara, a transmissão pode acontecer no momento do parto. Os perigos para a criança são graves e variáveis: do nascimento prematuro, baixo peso ao nascer, lesões na pele e problemas respiratórios e óbito, até riscos tardios, como alterações de face e ósseas, surdez neurológica, déficit cognitivo, entre outros.

Para evitar que a sífilis afete o bebê, o indicado é que as gestantes realizem um pré-natal adequado, que inclui três exames para sífilis: um no início da gestação, um no terceiro trimestre e outro no parto. Se confirmado o diagnóstico no teste rápido (o resultado é conhecido em até 30 minutos), a mãe deve receber imediatamente a primeira dose da penicilina benzatina e realizar o VDRL (teste para identificação de pacientes com sífilis) para o monitoramento da cura. O antibiótico trata a mulher e o bebê. Com o tratamento adequado, o bebê pode ter 100% de chance de não ser afetado pela doença. No entanto, o parceiro sexual também deve passar pelo tratamento.

“A sífilis agora atinge todas as classes sociais. Antigamente os pacientes eram de uma classe mais pobre. A sífilis congênita é a mais grave, pois, muitas vezes, a gestante é diagnosticada e tratada e o parceiro, não. Assim, há uma reinfecção da doença”, afirma Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que desenvolve um projeto de resposta rápida à sífilis em parceria com o Ministério da Saúde.

Segundo Valentim, há casos em que a gestante desconhece que tem a doença e só é diagnosticada no nascimento da criança. Por esse motivo, o teste para sífilis deve ser feito durante o pré-natal e seguido o Protocolo Clínico e de Diretrizes Terapêuticas de Transmissão Vertical do Ministério da Saúde, no caso de confirmação da infecção da criança.

Causada pela bactéria Treponema Pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível. Na maioria dos casos de sífilis a doença é assintomáticas; e quando o infectado apresenta sinais e sintomas, muitas vezes, não percebe ou valoriza, e pode, sem saber, transmitir a infecção às suas parcerias sexuais.

Quando não tratada, a sífilis pode evoluir desde a fase primária com uma ferida na genitália que cura espontaneamente, passando após um período sem sintomas para a fase secundária com aparecimento de lesões na pele, principalmente na palma das mãos e planta dos pés, que também podem desaparecer sem tratamento e evoluir para formas mais graves, comprometendo especialmente os sistemas nervoso e cardiovascular. A sífilis tem cura quando realizado o tratamento adequado com penicilina. O tratamento depende do estágio da infecção. Entretanto, a sífilis é transmissível no período de latência entre as fases da doença. O tratamento não torna a pessoa imune. Ela pode ser infectada novamente, via relação sexual, por alguém que tenha a bactéria. Portanto, as medidas de prevenção devem ser reforçadas após o tratamento como o uso de preservativo (masculino e feminino), além da testagem regular para a sífilis.

O Ministério da Saúde recomenda o rastreamento para sífilis com testagem anual em adolescentes e jovens menores de 30 anos com vida sexualmente ativa, informa a FUNPEC, uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como principal função estimular, apoiar e gerenciar atividades de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento científico, tecnológico e cultural.

Projeto de Resposta Rápida à Sífilis

Em 2016 o Ministério da Saúde declarou que a sífilis era uma epidemia e lançou uma agenda de ações estratégicas para redução dos casos da sífilis congênita, com a participação de várias organizações da sociedade civil, associações de profissionais de saúde e agências da ONU. No ano seguinte, a agenda foi ampliada e, em novembro de 2017, assinado convênio entre o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a UFRN para realizar o Projeto de Resposta Rápida à Sífilis nas redes de atenção, para estímulo ao diagnóstico e tratamento da doença. Este trabalho ganhou mais força este ano. O convênio foi possível, segundo a FUNPEC, graças à emenda parlamentar que destinou recursos adicionais ao orçamento federal para o combate à sífilis, no valor de R$ 200 milhões, em 2017.

“Foi necessária toda esta mobilização pelo Ministério da Saúde para darmos uma resposta rápida a uma doença antiga, mas tão atual”, afirma a diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids, das Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, responsável pela coordenação das ações da Agenda Estratégica para a resposta nacional à sífilis.

O projeto desenvolvido pelo MS em parceria com UFRN e OPAS, de acordo com a FUNPEC, prevê o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, ações educativas e também ações de comunicação (envolvendo publicidade e comunicação corporativa, relações públicas e comunicação digital). A universidade possui um convênio com a FUNPEC.

“Todo esse esforço tem como objetivo garantir o enfrentamento da epidemia de sífilis no território brasileiro. O projeto tem como abrangência 100 municípios prioritários, que correspondem a mais de 60% dos casos no país. As ações contam com o trabalho de 52 apoiadores que fazem articulação de campo, constituindo-se assim um público importante para as ações de comunicação”, explica Valentim.

Fonte | Revista Crescer

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