Apesar da associação, não pode-se dizer que os altos níveis de açúcar sejam a causa dos comportamentos violentos

Uma revisão de estudos publicada na revista Social Science & Medicine, com dados de 25 países europeus, sugeriu que crianças e adolescentes que consomem alimentos ricos em açúcar – leia-se doces, chocolates e bebidas açucaradas/energéticas – estão mais propensas à violência: 69% delas se mostraram predispostas a praticar bullying com os colegas. Além disso, as que estavam expostas a altos níveis de açúcar também se mostraram com tendência a comportamentos de risco: 72% estavam propensas a consumir bebida alcoólica, 95% a embriaguez e 89% ao tabagismo. Foram analisadas informações de 137.284 crianças de 11 a 15 anos.

Os resultados foram baseados em índices comparativos que analisaram a quantidade de açúcar consumido e a frequência com que as crianças que participaram do estudo intimidavam os colegas, bebiam e fumavam. De acordo com a revisão, as bebidas energéticas que, além da grande quantidade de açúcar, contém cafeína, mostraram um impacto ainda maior sobre o comportamento dos adolescentes, aumentando em quase quatro vezes a probabilidade de praticarem bullying com os colegas de escola.

Causa e efeito? Apesar da associação dos comportamentos negativos ao consumo excessivo de açúcar e bebidas energéticas, a nutricionista Lenycia Neri, do Ambulatório do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) diz não haver uma relação direta de causalidade entre uma coisa e outra: “Inclusive, o estudo aponta para a limitação que é a questão de causalidade. Não é que o consumo excessivo de açúcar causa esse aumento da violência e os comportamentos negativos. Eles estão, sim, associados, mas não como a causa do problema”, reforça. Os resultados sugerem que a alimentação não-saudável, como a ingestão de grandes quantidades de bebidas açucaradas, doces e chocolates, pode ser vista como uma “bandeira vermelha”, sinalizando um potencial envolvimento em múltiplos comportamentos de risco.

Segundo a especialista, o açúcar tem envolvimento com o sistema límbico (parte do cérebro responsável pelas emoções), o que ajudaria a entender parte da relação com o  comportamento. “Mas ainda não se sabe o caminho que leva de uma coisa à outra, não podemos atribuir uma relação direta de causa”, enfatiza.

Tanto nas crianças menores quanto nas maiores, como foi o caso do estudo que analisou, inclusive adolescentes de até 15 anos, os doces são vistos como recompensa, e ao consumi-los há um aumento rápido nos picos de glicemia, levando a cascatas de energia e euforia. Para a especialista os efeitos verificados nas crianças maiores e adolescentes também poderiam ser vistos em crianças menores. A diferença é que essas últimas estão muito mais sob o controle” dos pais e, obviamente, não teriam contato com bebidas energéticas ou alcoólicas, por exemplo.

Fonte | Revista Crescer
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