Um dicionário bilíngue é água no deserto para aquele que está a delirar.

William Barnstone

Na rotina do (bom/ótimo) aluno e professor do idioma bretão, a frequente consulta a um dicionário bilíngue (português-inglês e/ou inglês-português), mais indicado para quem ainda é iniciante, ou monolíngue (apenas em inglês), mais indicado para aqueles que estão num estágio bem mais avançado, é uma prática não apenas indicada por especialistas, mas também óbvia. O problema no Brasil é que o óbvio geralmente não é tão óbvio assim, mainly nas escolas públicas…

Segundo as poucas e raras pesquisas sobre o assunto, quem costuma fazer uso dos dictionaries, seja em formato de papel, digital ou online, são alunos dos ensinos fundamental e médio, quem lê ou escreve textos em inglês, e curiosos. As consultas feitas por alunos e professores brasileiros, quando acontecem, buscam quase sempre obter a simples tradução de uma palavra ou expressão, conferir a sua estrutura ortográfica e, quando disponíveis, copiar as frases prontas dadas como exemplo.

Entretanto, o percentual de aprendizes e mestres que usam espontânea e corriqueiramente o dicionário bilíngue é muito pequeno, estimado em aproximadamente 20% dos interessados – o que eu acho um índice exagerado. Creio que (bem) menos de 10% dos nossos learners e teachers, na verdade, têm esse hábito, afinal eles pouco ou nada leem material midiático como jornais, revistas, livros, blogssites ou até mesmo placas de carro/moto em língua inglesa!

Um fator extremamente importante, porém, que é peremptoriamente negligenciado tanto por nossos teachers quanto por nossos students of English, é o quesito ‘qualidade do uso do dicionário’ como material paradidático e ferramenta de estudo/ensino na sala de aula, em casa, no trabalho etc. Digo isso porque, segundo as minhas pesquisas, o ritual dos aprendizes brasileiros de inglês inclui a leitura superficial dos vocábulos pesquisados, não dando a devida atenção a outras informações presentes no verbete desejado. É o que eu costumo chamar de síndrome stone-é-pedra-pedra-é-stone, como se stone não pudesse significar outra coisa – como, por exemplo, ‘caroço’ e também indicar uma unidade de medida (como está explícito no Longman Dicionário Escolar, a propósito).

Por fim, vale ressaltar que o dicionário, bilíngue ou não, deve ser encarado como um aliado na (quase sempre difícil) arte de aprender um idioma estrangeiro, em especial o bretão. No entanto, ele está longe de não ter incongruências e erros crassos, sejam tipográficos ou advindos das exemplificações dadas. Nada mais natural, eu diria, já que eles foram feitos seres humanos que, em meio a tanto trabalho e tanta pesquisa, podem/devem ter deixado escapar uma ou outra incoerência aqui e ali.

Se você duvida, mesmo que você tenha “um dos melhores” ou “um dos piores” à disposição no mercado, dê uma olhadinha no seu dicionário com mais atenção da próxima vez, para ver as coisas curiosas que você vai encontrar e encontrar e encontrar, se você passar a utilizá-lo com mais assiduidade e zelo…

P.S.: Agora, para efeito de simples conferência ou curiosidade, please verifique na biblioteca da sua escola (ou da escola do seu filho) quantos dicionários português-inglês (ou vice-versa) estão ao alcance das mãos. Muito provavelmente, bem menos do que o suficiente…

Fonte | Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor da biografia Lamartine da Nóbrega – Uma História Como Nenhuma Outra

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