Eles não vão deixar de durar 48 horas, mas a percepção e a memória do tempo são subjetivas

As semanas estão mal organizadas. Não faz sentido que passemos cinco dias trabalhando e só tenhamos os sábados e domingos livres. Tinha que ser ao contrário: dois dias trabalhando (quando muito), e cinco descansando. Além disso, os dois dias do fim de semana passam voando, enquanto as horas no escritório, em vez de avançarem, se arrastam. Há alguma forma de que o tempo do fim de semana nos pareça (não é nada, não é nada…) mais longo?

“A percepção do tempo é muito subjetiva e não coincide com o que marcam os relógios”, diz Ignacio Morgado, diretor do Instituto de Neurociências da Universidade Autônoma de Barcelona e autor de Emociones Corrosivas e La Fábrica de las Ilusiones.

Temos a impressão de que o tempo transcorre mais depressa quando nos divertimos, quando estamos ocupados ou motivados e, também, quando estamos fazendo coisas novas. Mas parece que anda muito mais lento quando nos entediamos, quando sentimos dor ou desconforto e quando estamos preocupados ou em perigo. Mesmo quando estamos pendentes do relógio, como nas ocasiões em que estamos com pressa e esperamos que um semáforo fique verde de uma vez.

Ou seja, uma primeira solução para que os fins de semana nos pareçam mais longos seria nos entediar ou sofrer. Indo ao dentista, por exemplo: podemos nos entediar na sala de espera e sofrer quando chegar a nossa vez. Não é uma boa ideia, claro. Portanto, se quisermos ter a sensação de que nossos fins de semana são mais longos, devemos prestar mais atenção à memória.

Não só vivemos o tempo, também o recordamos

Na nossa memória, o tempo também se altera: “A lembrança é uma experiência subjetiva”, observa Morgado. Na memória (e na lembrança do tempo), a emoção tem um papel fundamental: “Recordamos melhor tudo o que nos emociona, seja bom ou ruim”. Mas as lembranças boas têm uma vantagem, como escreve a psicóloga Claudia Hammond em seu livro Time Warped (“tempo deformado”): gostamos de comentá-las mais frequentemente e, por exemplo, folhear álbuns de fotos… Assim, é mais provável que afinal acabemos por recordá-las melhor.

Também as novidades ajudam a nossa memória. Por isso temos mais lembranças de quando tínhamos entre 15 e 25 anos. Nessa idade, acontecem pela primeira vez coisas muito importantes: os primeiros amores, os primeiros trabalhos, as primeiras viagens com amigos… Também influi, recorda Hammond, que nesses anos o cérebro está se desenvolvendo e que, além disso, estamos procurando e confirmando nossa própria identidade.

Criar novas lembranças é criar tempo

Quando há menos novidade e menos emoção, as lembranças acabam se concentrando e se fundindo. Não há motivos para diferenciar uma segunda-feira pela manhã no escritório diante de uma planilha de uma quarta-feira à tarde no mesmo escritório diante da mesma planilha. Se todos os dias forem iguais, acabamos por esquecê-los. Todas as segundas-feiras são a mesma segunda-feira.

Ou seja, se nos entediarmos no fim de semana, pode ser que o tempo transcorrido nos pareça mais longo enquanto o estivermos vivendo, mas o recordaremos como muito mais curto, já que não haverá nada para recordar.

Por outro lado, se, como diz Hammond, “criamos mais memórias novas que num dia normal”, pode ser que o tempo do fim de semana passe mais depressa, mas também acabaremos com a impressão de que foi mais longo: “Recordamos momentos, não dias”.

Além de introduzir variedade, é uma boa ideia alterar as rotinas. Essas mudanças nos obrigam a ser mais conscientes do que fazemos e nos deixam em modo antecipatório, por isso nos parece que o tempo passa mais devagar. Isso pode ser um inconveniente se estivermos esperando o sinal abrir, mas pode ser uma vantagem se estivermos nos orientando numa nova cidade ou provando um prato que não conhecíamos.

O fim de semana continuará durando as mesmas 48 horas, mas recordaremos muitas mais.

Obviamente, outra opção é instaurar de uma vez os fins de semana de três dias, mas o que foi dito acima pode ajudar enquanto isso não for possível.

Fonte | El País
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