O que ocorre atualmente no Brasil é óbvio: em cada dez interessados em estudar idiomas estrangeiros, a maioria opta pelo inglês (“porque é o mais importante e o mais usado”) ou pelo espanhol (“porque é mais fácil do que o inglês”). Poucas são as pessoas que se matriculam (e persistem) nas aulas de italiano, russo ou mandarim, for instance. Primeiro porque quase não há turmas disponíveis desses idiomas na cidade e, claro, o valor das mensalidades ou o método adotado é pouco atraente.

Tal fenômeno é recorrente e compreensível, afinal há um certo “mercado” que prioriza certas línguas em detrimento de outras, bem como um perfil de funcionário/colaborador ou graduando/pós-graduando que tem maiores chances de ser o escolhido para uma vaga de emprego ou bolsa de mestrado, doutorado ou pós-doutorado, que se baseia em uma série de fatores, dentre os quais a competência linguística é tida como um ingrediente fundamental.

Ocorre que, para se chegar ao que chamamos de fluência/proficiência, é preciso bastante empenho e dedicação por parte dos aprendizes, bem como uma boa dose de paciência, persistência e até mesmo de sorte. Explico: paciência porque o conhecimento que se almeja não vem de uma hora para outra, e é exatamente por isso que muita gente se perde pelo caminho; persistência porque nem sempre é na primeira, na segunda ou na centésima tentativa que conseguimos acertar aquilo que “é tão fácil para os outros”; por fim, sorte, porque quem está em uma boa escola, com um ótimo professor e em uma turma dedicada (três quesitos que nem sempre ocorrem simultaneamente) tem maior possibilidade de não apenas terminar um livro, mas chegar ao final de todo o curso, seja ele de um ano e meio ou com duração de até seis anos ou mais!

Hoje em dia, porém, a escola (seja ela de que tipo for) perdeu muito da sua credibilidade e importância na vida das pessoas, principalmente dos mais jovens e daqueles que têm outras prioridades na vida, como trabalhar formal ou informalmente para garantir a sua sobrevivência diária ou lidar com a violência, as drogas e tantos outros males da sociedade contemporânea. Para estes, a sala de aula são as ruas, avenidas e demais logradouros públicos da cidade, muitas vezes sem ter o que comer e até mesmo onde morar com segurança e conforto.

Por outro lado, temos aqueles afortunados que têm tudo nas mãos: casa, comida, roupa lavada, acesso à Internet de primeiro mundo, celular top ou “da hora” e tantas outras regalias, inclusive o seu English course numa escola franqueada. Classe média ou alta, esses afortunados nem sempre se esforçam a contento para aprender o essencial da língua-alvo em sala de aula, preferindo se dedicar a, digamos assim, “formas mais prazerosas de aprendizagem”, ou seja, com videogame, séries de TV, música, Internet etc. Talk about good life!

Mas estes são apenas alguns dos muitos fatores que explicam a baixa, baixíssima aprendizagem dos nossos aprendizes de língua inglesa no Brasil. Seduzidos por “formas mais fáceis de aprender” o que eles têm como prioridade (geralmente gírias e palavras de baixo calão), eles automaticamente passam a considerar a sala de aula tradicional de língua inglesa como “chata” ou “nada a ver” com as suas expectativas ou necessidades.

Então, por fim, há aquele contingente enorme de pessoas que aparentemente tem uma dificuldade natural de aprendizagem de idiomas, apesar dos seus visíveis esforços neste sentido. O fato é que esses, bem como mais de 80%, dos aprendizes standard de língua inglesa que temos no país (independentemente do seu perfil socioeconômico), jamais chegarão ao patamar de fluência/proficiência que sonharam ter, seja por limitações próprias ou por causa da incompetência alheia. Para eles, tamanha perdição se dá por não terem com quem interagir com qualidade e constância, por não fazerem as tarefas dadas, por não participarem de grupos de estudo ou de conversação, por serem tímidos e inseguros etc.

Realidade essa que, unfortunately, não deve mudar para melhor tão cedo, caso uma boa dose de perspicácia e bom senso não ocorra a todos os interessados…

Fonte | Jerry Mill-Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor da biografia Lamartine da Nóbrega – Uma História Como Nenhuma Outra

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