Quem passa pelo número 1841, onde se dá o cruzamento entre a Avenida Tiradentes com a Rua Arnaldo Estêvão de Figueiredo (agrônomo e político mato-grossense), no Centro, raramente deixa de perceber a luxuosa construção que está sendo erguida por ali. Para quem não sabe, ou não se lembra mais, lá, há alguns anos, ficavam as instalações da Viação Motta, empresa de transporte rodoviário, com sede em Presidente Prudente, São Paulo. Hoje, dada à sua beleza, além da curiosidade, o projeto arquitetônico desperta também o fascínio de quem passa pelo lugar, o que se justifica pelas descrições expostas nas placas de identificação da obra.

Tais placas descritivas indicam, por exemplo, quem são os responsáveis técnicos e os autores dos diversos projetos que compõem o empreendimento (estrutural, hidrossanitário e elétrico, dentre outros), bem como seus respectivos registros no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), o PBQP do Habitat (Nível A) e o sistema de gestão da qualidade certificada (ISO:9001). Eis, sem dúvida, mais uma aposta de grande envergadura (e alto investimento) da Salas Construtora e Imobiliária, empresa renomada no mercado local, existente há 34 anos, cuja política (segundo seu site) é “construir com qualidade e produtividade visando a melhoria contínua e a satisfação do cliente”, com a missão de “construir o amanhã” e tendo “pontualidade, qualidade, honestidade, comprometimento e segurança” como seus valores. Que chique!

Noutra placa descritiva, a pujança da obra é mostrada em minúcias. Ou seja, ela informa que a construção, uma vez pronta, terá escritórios comerciais, salas de reunião, áreas comuns (entregues equipadas e mobiliadas), 328 vagas de estacionamento e 6 elevadores. Um paraíso, talvez, para quem é do ramo, right?

Como sou professor de línguas e pesquisador do campo da linguagem, porém, nada chamou mais a minha atenção do que o nome dado ao Centro Empresarial: Prime. Isso mesmo: Prime. Palavra esta do latim primus (cujo plural é prima, e significa primeiro/s), com influência do francês antigo e (bingo!) do inglês arcaico. Na língua portuguesa, a palavra tem forte relação com o verbo primar (que quer dizer ser o primeiro, possuir a primazia/preferência em relação a outra coisa ou pessoa, ou ainda distinguir-se por alguma qualidade ou característica particular) e resultou em palavras correlatas como primário, primitivo (primeiro + nativo) e primogênito, dentre outras. Daí decorre a opção Prime (que é erroneamente pronunciada /práimi/, em vez de /pruáim/, com um u pronunciado bem fraquinho, nas propagandas veiculadas pela mídia brasileira) dada pelo banco Bradesco e pelos organizadores da Exposul, com seu Bangalô Prime – seja lá o que eles querem dizer com isso…

Eu, particularmente, não tenho nada contra a já tradicional prática de dar nomes estrangeiros a prédios, edifícios, residenciais, condomínios e (como é o caso aqui) centros empresariais em nossa cidade, no nosso estado e no nosso país. Cada um faz o que quer, dentro dos seus limites, please! Só acho que isso quase sempre é evitável, para evitar constrangimentos de parte a parte, ou seja, da empresa construtora e também do morador/frequentador desses locais. No mais, essa tendência/mania se torna evidente quando verificamos a seção de classificados do nosso jornal A Tribuna, onde nomes italianos, franceses e (of course!) ingleses, por exemplo, abundam como opção de compra, venda e locação, como é o caso de Royal Boulevard, Cezanne, Caravaggio, Murano, Price e Sunflower.

Anyway, embora o início e o término da construção (e muito menos a data da inauguração) do Centro Empresarial Prime não sejam informadas nas placas de identificação colocadas na frente do imóvel, estimo que, pela rapidez com que a obra está tomando forma, isso deve ocorrer no segundo semestre deste glorioso ano de 2018, o que deve incrementar o vai-e-vem de pessoas (e dinheiro) naquela região da cidade e, consequentemente, beneficiar direta e indiretamente a vida de alguns milhares de indivíduos, mas muito especialmente a vida das divas do amor que trabalham naquelas redondezas – se é que elas manterão seu concorrido ponto de encontro e otras cositas más por ali mesmo por muito tempo.

P,S,: Antes que eu me esqueça, PBQP quer dizer (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade) e ISO, International Organization for Standardization, Olha o inglês mais uma vez aí, gente!

Fonte | Jerry Mill -Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), conselheiro da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor da biografia Lamartine da Nóbrega – Uma História Como Nenhuma Outra

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