“Vim aqui hoje para trazer a verdade real”. Foi com esta frase que o cabo Gerson Corrêa iniciou a sua confissão, na madrugada deste sábado (28), durante interrogatório na 11ª Vara Criminal Militar, sobre a existência dos grampos ilegais em Mato Grosso. Ele apontou o governador Pedro Taques (PSDB) e o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, como os principais beneficiários do esquema: “Na minha convicção, o dono disso tudo é ele [Pedro Taques]”, disparou o policial militar. “Você começa a perceber que os interesses não eram apenas do Zaqueu , mas sim do Paulo Taques e do governador do Estado, o senhor Pedro Taques. Não tenho a menor dúvida disto. Nunca ninguém do MP ou Judiciário me pediu nada”, revelou o cabo Gerson, que chorou diversas vezes durante o interrogatório e pediu desculpas à sociedade. “O dono disso aqui não sou eu, nem o coronel Zaqueu. Os donos disso aqui são Paulo Taques e o governador Pedro Taques. Longe da Polícia Militar”, disparou o cabo. Este, inclusive, foi apontado pelo réu como o motivo de ter arrolado o chefe do Executivo como testemunha. Entre as revelações, está a confirmação de que o ex-secretário Paulo Taques teria financiado o ‘Sentinela’: “Fui na casa dele [Paulo Taques]. Não perguntei nada, foi no carro, peguei o dinheiro e pronto”. O montante teria sido pago quando o acusado já atuava como gestor da Casa Civil. O cabo adiantou ainda que as escutas feitas em José Patrocínio e no vereador Chico 2000 eram para “pegar crimes eleitorais dessas pessoas”. Contou ainda ter grampeado a conversa entre o ex-governador Silval Barbosa e o presidente Michel Temer (MDB) para tentar acelerar a soltura da ex-primeira dama Roseli Barbosa. Em maio de 2017 o esquema dos grampos veio à tona com reportagem publicada pelo Fantástico. O esquema foi concebido na modalidade “barriga de aluguel”, quando investigadores solicitam à Justiça acesso aos telefonemas de determinadas pessoas envolvidas em crimes e no meio dos nomes inserem contatos de não investigados. O grupo embolsou R$ 50 mil para comprar os primeiros equipamentos para as escutas.
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Outro lado O Governo do Estado informa que o governador Pedro Taques determinou a apuração de todos os fatos relacionados às supostas escutas telefônicas clandestinas assim que a denúncia chegou ao conhecimento dele, em 2015, garantindo independência das Polícias Civil e Militar nas investigações. O Governo do Estado ressalta ainda que o governador Pedro Taques solicitou ao Superior Tribunal de Justiça que ele próprio fosse investigado neste caso para comprovar, perante a Justiça, que não teve qualquer envolvimento nos fatos narrados por terceiros. Já a assessoria de imprensa do ex-secretário Paulo Taques afirma que a defesa nega as acusações e que se pronunciará nos autos do processo. Contexto Gerson Corrêa Júnior atuava no Gaeco e possuia o ‘know how’ na operação do Sistema Guardião de Interceptação Telefônica. Foi levado em 2015 para o Núcleo da Inteligência da Polícia Militar, na Casa Militar, época dos grampos. Continuou na Casa Militar até maio de 2017, quando teve prisão preventiva decretada por ter operado o esquema de interceptações telefônicas ilegais. Os acusados desta ação penal militar são: Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco, Ronelson Barros, Januário Batista e Gerson Correa Junior. Os cinco respondem pelos crimes de Ação Militar Ilícita, Falsificação de Documento, Falsidade Ideológica e Prevaricação, todos previstos na Legislação Militar. Veja os principais pontos ditos pelo cabo Gerson em seu interrogatório: 05h03 – “Fiquei muito mais pobre com a ‘grampolândia’. Eu só perdi dinheiro”, afirma o cabo. 04h19 – O sargento da Polícia Militar João Ricardo Soler, o coronel Ronelson Barros e o tenente-coronel Januário Batista foram inocentados pelo cabo da participação no esquema. Ele diz não entender como os nomes deles foram parar na investigação. 04h07 – O cabo Gerson, assim como em outros momentos do interrogatório, chorou ao ser parabenizado pelo juiz por ter contado quem seria o mandante dos grampos ilegais. 03h54 – Na sequência do interrogatório, Gerson volta a afirmar: “na minha convicção o dono disso aqui é ele [governador Pedro Taques]”. 03h51 – Segundo o cabo, Zaqueu e o governador teriam se conhecido quando o PM foi segurança do ainda procurador Pedro Taques, na ‘Operação Arca de Noé.’ 03h36 – “O dono disso aqui não sou eu, nem o coronel Zaqueu. Os donos disso aqui são Paulo Taques e o governador Pedro Taques. Longe da Polícia Militar”, disparou o cabo. Este, inclusive, foi apontado pelo réu como o motivo de ter arrolado o chefe do Executivo como testemunha. 03h24 – Além disto, o cabo revelou que a jornalista Laryssa Malheiros teve seu telefone incluído nos grampos a mando de Paulo Taques. 03h22 – O cabo Gerson confirma que ouviu uma conversa entre o ex-governador Silval Barbosa e o presidente Michel Temer (MDB) para tentar acelerar a soltura da ex-primeira dama Roseli Barbosa: “Foi aí que teve uma ligação do Silval com o Temer, falando sobre agilizar o HC no STJ”. Gerson ainda afirma ter levado isto para o promotor Marco Aurélio, do Grupo de Combate a Corrupção (Gaeco) e que isto teria gerado ciúme em seu superior. 02h42 – Gerson confirma que tinha a senha do e-mail de Zaqueu, mas afirma que nunca encaminhou nada. Ele seria somente utilizado para acessar decisões de Cáceres, onde os policiais interceptados eram lotados. 02h19 – “Você começa a perceber que os interesses não eram apenas do Zaqueu , mas sim do Paulo Taques e do governador do Estado, o senhor Pedro Taques. Não tenho a menor dúvida disto. Nunca ninguém do MP ou Judiciário me pediu nada”, completa o cabo. Gerson volta a afirmar que entregou gravações na mão de Paulo Taques, dentro do Palácio Paiguás. 01h49 – O cabo Gerson acrescentou que o interesse da barriga de aluguel seria do governador Pedro Taques e do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques: “O interesse das barrigas de aluguel é do Paulo Taques e do governador”. 01h47 – O cabo revela que o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, foi quem pagou R$ 34 mil para financiar o ‘Sentinela’: “O dinheiro foi transferido da minha conta para a do Marilson, que mentiu dizendo que não paguei”. “Fui na casa dele [Paulo Taques]. Não perguntei nada, foi no carro, peguei o dinheiro e pronto”, continuou o cabo. O montante teria sido pago quando Paulo já atuava como gestor da Casa Civil. 01h20 – Durante o depoimento, o cabo Gerson chorou e disse que “em respeito aos meus princípios e a minha família eu iria esclarecer isso”. Adiantou ainda que as escutas feitas em José Patrocínio e no vereador Chico 2000 eram para “pegar crimes eleitorais dessas pessoas”. 01h18 – Ainda conforme o cabo, as conversas eram gravas num pen drive e entregues nas mãos de Zaqueu. Antes da eleição, ele afirma ter entregado três pen drives a Zaqueu. “Eu já imaginava que alguém ia ouvir. Não sei quem, se era algum PM, Zaqueu, Pedro ou Paulo Taques”. 01h17 – O cabo ainda revela que começou a se preocupar quando viu que o jornalista Muvuca estava entre os alvos dos grampos. “Lá, tomei conhecimento do pano de fundo, com informações de cada um dos alvos. 01h14 – Segundo o cabo Gerson, na semana da eleição, Zaqueu lhe apresentou uma nova “leva de números” para serem interceptados: “Para minha surpresa, quando iniciou as interceptações, ele me explicou a inclusão de novos números de pessoas ligadas a campanha política de 2014, seja do Lúdio Cabral ou do Riva”. O cabo também confirma que todos os números estavam disfarçados de apelidos. Entre os alvos estavam o vereador de Cuiabá, Chico 2000 (PR) e o jornalista José Marcondes “Muvuca”, candidato ao governo à época e adversário de Pedro Taques: “Do jeito que veio, eu coloquei no papel. Nesse dia, o Zaqueu me revelou quem eram as pessoas”. Fonte | OlharDireto
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