Rondonópolis é um dos mais de 5.500 municípios existentes no país nos dias atuais, sendo também um daqueles que estão na lista dos que mais crescem nos diversos índices medidos (extra)oficialmente. Por isso, embora relativamente jovem, nosso aglomerado urbano já dá sinais de que tem ou logo terá atmosfera e problemas semelhantes aos das cidades mais antigas ou maiores em termos culturais, estruturais e populacionais.

De modo similar, há na nossa metrópole milhares de empresas e empresários oferecendo diariamente seus produtos e serviços, contribuindo, cada um a seu modo, com o desenvolvimento e consequente crescimento deste pujante município localizado na região sudeste do estado de Mato Grosso, lugar este em que oportunidades e oportunistas podem ser vislumbrados constantemente, evidente ônus que pagamos pelo estágio dessa tal modernidade que conquistamos.

Falando de modernidade, no ambiente dessas empresas, é notório que o antigo e o novo nem sempre convivem de forma tão harmoniosa, já que é comum que existam situações conflituosas quando se pensa em qualquer tipo de relação humana que envolva pelo menos dois indivíduos – imagine, então, um local onde dezenas ou centenas de pessoas ocupam o mesmo espaço cinco, seis ou sete dias por semana!

Ocorre que, no âmbito empresarial, um tema que traz consigo uma certa apreensão, ou mesmo tensão, é a necessidade (ou não) de haver investimento no campo da educação, seja por intermédio de convênios, contratos ou parcerias com associações comerciais, câmaras de dirigentes lojistas, sindicatos, faculdades, institutos ou escolas, principalmente as de profissões. Afinal, no currículo de um bom funcionário conta muito o fato de ele dominar o maquinário ou programas de computador que ele vai utilizar, além de ser importantíssimo ele ser capaz de se comunicar com desenvoltura na própria língua portuguesa, o que nem sempre acontece.

Por outro lado, se o indivíduo ainda não está inserido legalmente no mercado de trabalho, ou seja, está à procura de emprego, além das habilidades citadas anteriormente, conta muito também ele ter sido voluntário em algum programa social, ter feito curso superior (em especial uma pós-graduação) e saber não um idioma qualquer, mas o inglês – idioma este que causa considerável pavor em muita gente. E não devia ser assim..

Na prática, porém, embora ela seja e esteja onipresente no dia a dia de todos nós, empresários ou não, a língua inglesa é, de certa forma, menosprezada e até mesmo desvalorizada, quando ela devia ser tratada como uma das prioridades no campo da formação profissional, principalmente quando nos referimos a aqueles colaboradores que ocupam cargos de referência na hierarquia das empresas, como supervisores, gerentes, etc. – o que, infelizmente, fica apenas no campo da utopia. É dada preferência ao improviso, ao jeitinho, ao uso do Google Tradutor, se for o caso, em vez de haver investimento constante na busca incessante pela criação de um ambiente linguístico propício em todo espaço em que isso seja possível, e desejável, dentro da empresa.

Naturalmente, um dos mais (re)conhecidos e mais graves problemas que existem nas empresas é justamente a (falta de) comunicação e entrosamento existente entre os diferentes setores, mas que (dizem!) parece ter predileção pelos Recursos Humanos (RH). E quando me refiro a essa miscommunnication entre as diferentes áreas de uma empresa, eu estou me referindo apenas ao uso restrito da língua portuguesa do Brasil, tanto na sua modalidade oral quanto escrita, com escandaloso desrespeito à concordância e à dupla dinâmica acentuação/pontuação, por exemplo. Imagine agora o tamanho da tragédia se fossemos averiguar a qualidade da língua inglesa falada e escrita pelos “funcionários altamente qualificados” que geralmente trabalham nas empresas (inter)nacionais que atuam em nosso município e, por extensão, no estado de Mato Grosso. Seja via WhatsApp, email, Skype ou uma simples ligação, eles costumam fazer uso de uma língua inglesa estranha, suspeita – e muitos nem se dão conta disso!

Eu vejo a coisa assim: a língua/linguagem não deve ser vista como algo difícil e apavorante, mas como uma ferramenta essencial para o crescimento pessoal, coletivo e profissional de todos os envolvidos, em especial quando ela se faz necessária. Investir em effective communication é uma forma simples e assertiva, divertida até, de unir as pessoas, mesmo que elas estejam em países diferentes. E este devia ser uma das prioridades de qualquer empresa séria, ou não?

Fonte | Jerry Mill -Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL), conselheiro da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis

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One Reply to “Inglês Empresarial”

  1. Para estes, a morte duma língua é a morte do mundo inteiro. Na verdade, o mundo morre sempre que morre alguém… Esta atitude aparece muitas vezes entre aqueles que defendem que cada língua representa uma forma distinta de ver o mundo — e que a tradução entre línguas é uma ilusão. Já discuti este tema de forma mais profunda noutros artigos e no livro Doze Segredos da Língua Portuguesa. Para quem defende esta separação insanável entre os falantes das várias línguas, a morte duma língua é a morte de qualquer coisa que podemos chamar de mítica. No entanto, se virmos bem, se aquilo que os falantes duma língua sabem ou conseguem dizer é impossível de traduzir ou comunicar aos falantes doutras línguas, então o desaparecimento duma língua não é assim tão grave. Não tínhamos acesso, de qualquer maneira, àquilo que essa língua tinha para nos oferecer. É grave para os falantes da língua, mas se estes já morreram, que falta nos faz essa língua? O leitor talvez queira, agora que nos aproximamos do fim do texto, uma posição marcada: o choro compulsivo de quem vê uma língua partir ou o encolher de ombros de quem descobre que nada disso importa. Na verdade, tenho outra coisa: uma imensa curiosidade sobre estas línguas todas, mortas ou em constante mutação, mas pouca vontade de arrancar cabelos por ideias etéreas sobre o valor místico desta língua ou daquela. Fiquemos com isto: o desaparecimento duma língua é, de facto, uma perda, mas é preciso escavar um pouco mais para perceber por que motivos — encontro pelo menos dois: Quando uma língua desaparece, há menos interesse em proteger uma tradição literária e uma série de textos escritos nessa tradição.

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