Beto e Thais, que partiram do Guarujá, no litoral paulista, navegam a costa brasileira em busca de experiência para explorar o mundo.

O casal que decidiu abandonar os empregos em São Paulo, vendeu imóveis e até as próprias roupas para concretizar o sonho de viver em alto mar, ao lado do cão Google, completou, neste mês, seis meses de aventura pela costa brasileira. A viagem, a princípio, serve como um teste para o grande objetivo da dupla: velejar em diferentes cantos do planeta.

O publicitário Beto Toledo, de 35 anos, e a designer de moda Thaís Cañadó, de 26 anos, partiram – ou zarparam – de Guarujá, no litoral de São Paulo, em maio de 2017, acompanhados do cão de estimação da dupla.

Após mais de seis meses a bordo, o casal, até então pouco experiente, já acumula mais de 1100 quilômetros navegados (ou 600 milhas náuticas). Em uma conta rápida, eles afirmam já terem visitado mais de 40 lugares diferentes, além terem conhecido novos amigos e de, finalmente, aprenderem a viver no mar.

“Nós saímos do Guarujá achando que iríamos ficar cinco dias na primeira praia [no litoral norte do Estado], já que conhecíamos tudo ali. Mas quando você chega de barco, é tudo diferente. A forma que as pessoas te recebem, principalmente. É muito melhor. É algo que nós nunca tínhamos vivenciado”, comenta Beto.

Google se adaptou bens às mudanças após embarcar junto com casal em veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Google se adaptou bens às mudanças após embarcar junto com casal em veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Não por acaso, logo de cara eles perceberam que o cronograma que tinham montado mudaria. “A percepção de tempo acaba sendo outra, assim como nossas prioridades. Queríamos aproveitar, então tudo está durando mais tempo. Afinal, porque precisamos ter pressa? Temos que ser feliz”, complementou Thaís.

Antes de iniciarem a viagem, o casal disse que gostaria de passar o réveillon de 2017/2018 no nordeste. Eles ainda não chegaram lá, pois o tempo de permanência inicial nas paradas que fizeram – que era de até uma semana, em média – prolongou, em alguns casos, para um mês.

“Cada lugar visitado é um aprendizado. Na Ilha Grande (RJ), por exemplo, a gente aprendeu como se deve ancorar. Além disso, fomos descobrindo como nós mesmo poderíamos fazer a manutenção no barco. Precisávamos ganhar experiência, pois éramos iniciantes”, conta Beto, responsável por comandar o veleiro.

Em paralelo, Thaís apostou na conexão com a natureza. “Estamos entendo a meteorologia, condições de tempo e de mar. Por mais que não tenhamos pressa e que não fiquemos olhando para o relógio ou o celular, o nosso tempo é pensado. Tudo passa muito rápido e, acredite, não temos momento de tédio”, fala Thaís.

Veleiro Shogun (ao centro) participou de regata em Ilhabela (SP) (Foto: Arquivo Pessoal)

Veleiro Shogun (ao centro) participou de regata em Ilhabela (SP) (Foto: Arquivo Pessoal)

O publicitário chegou a levar um violão achando que poderia tocar nas horas vagas. A designer carregou alguns livros na bagagem. Está tudo embarcado, quase que intacto. A justificativa, segundo eles, é pela rotina (ou falta dela), não desgastante como a que tinham em São Paulo, mas intensa, com novas experiências.

“Acordamos todo dia com uma nova paisagem e temos conhecido muita gente. Todo dia é um vizinho novo no mar. Todo dia é um por do sol diferente. Muitas pessoas estão vivendo isso que nós estamos vivendo pela primeira vez há muito tempo”, fala a jovem. “É uma troca de experiência muito grande”, complementa o namorado.

E os perrengues? Eles afirmam que não enfrentaram muitos ao longo desse tempo. O motor do antigo veleiro, construído na década de 1980 e que foi modernizado quando foi comprado por eles, precisou ser trocado. Na ausência dos ventos, é ele o responsável por permitir que o barco navegue em segurança.

O investimento fez com que o casal começasse a utilizar uma reserva de dinheiro que tinha acumulado antes do previsto. “Calculamos que nossos gastos hoje estão por volta dos R$ 4 mil, que é o que nós tínhamos previsto de rendimento para eventuais despesas. Mas talvez tudo guardado acabe antes”, pondera Beto.

Publicitário largou a vida em São Paulo para viver a bordo de um veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Publicitário largou a vida em São Paulo para viver a bordo de um veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Ambos conseguiram arrecadar inicialmente R$ 600 mil com a venda de imóveis, bens, carros e roupas. Deste total, R$ 200 mil foi para a compra e modernização do veleiro. O restante foi aplicado e o rendimento seria o valor que ambos teriam que usar mês a mês para manutenção da embarcação e outros gastos pessoais.

“Mas se acabar antes da hora, é algo que não nos preocupamos. Não temos a intenção de voltar às nossas antigas rotinas [ambos trabalhavam na capital paulista], então podemos viver do mar também, como fazer charter [aluguel do próprio barco para saídas guiadas], mas ainda não precisamos”, fala Thaís.

Entre poucas preocupações e muitas descobertas, eles também aprenderam a lidar com a saudade. Os amigos antigos estão sempre presentes nas paradas que fazem e os familiares, muitas vezes, também vão ao encontro deles. “Também chegamos a visitá-los [em terra]. E isso nos ajudou muito, mas estamos levando”, contou a designer.

Eles afirmam não acumular arrependimentos e, reiteram, para este ano, o plano de passar o próximo réveillon no nordeste do país. Depois disso, a ideia é trocar de barco para seguir até o Caribe ou fazer a travessia do Atlântico e percorrer a costa da Europa. Antes disso, prometem se casar a bordo, em março.

Thaís ajuda Beto a cuidar do veleiro Shogun desde 2017 (Foto: Arquivo Pessoal)

Thaís ajuda Beto a cuidar do veleiro Shogun desde 2017 (Foto: Arquivo Pessoal)

Assim como o casal, Google, um Golden Retriver de pouco mais de três anos – o tempo de namoro dos dois – se adaptou muito bem às mudanças, garantem. Nas imagens que eles compartilham em um canal no Youtube, eles brincam até que o cão, até então criado dentro de casa, voltou a ser selvagem.

“Eu me sinto livre. Eu tenho tudo o que eu quero, sem precisar me matar, de correr atrás. Muitas vezes eu comprava coisas que não queria e hoje eu vivo uma sensação de liberdade muito grande, pois não estou preso em um sistema”, fala Beto, ao fazer o primeiro balanço da viagem, ancorado em Arraial do Cabo (RJ).

“Muita gente chegou pra gente dizendo que nós éramos loucos. Outros falaram que tínhamos coragem. Hoje muitos dizem que se inspiram na gente. Eu só tenho a agradecer por ter entrado nessa vida, que é maravilhosa. Somos e estamos felizes assim e loucos para descobrir as surpresas da próxima parada”, finaliza Thaís.

Casal partiu do Guarujá, no litoral de São Paulo, para viver a bordo de um veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Casal partiu do Guarujá, no litoral de São Paulo, para viver a bordo de um veleiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Fonte |  G1
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