Luan carrega hoje número místico no clube, já usado por Renato e Paulo Nunes nas conquistas da Libertadores em 1983 e 1995, respectivamente

 

A 10 de Pelé, a 10 de Zico, a 10 de Maradona… Geralmente a camisa 10 de clubes ou seleções remonta a fatos e ídolos históricos. Mas cada qual tem sua identidade. E faz parte da identidade do Grêmio ter no 7 o seu 10. A camisa de chumbo, pesada, aquela vestida por quem o torcedor pode cobrar. Na final da Libertadores, contra o Lanús, nesta quarta-feira, Luan carregará o número nas costas com a missão de se igualar a Renato Gaúcho e Paulo Nunes, ambos campeões da América com a 7 do Grêmio.

Mas outro ponto também une o trio, segundo diagnóstico do maior ídolo da história gremista: são todos abusados. A ponto de xingar um rival após ganhar um título, imitar o mascote do Inter após balançar as redes no clássico ou pedir para jogar um Gre-Nal logo após o título mundial. Em décadas diferentes, Luan, Paulo Nunes e Renato escreveram sua história no Grêmio a dribles, jogadas de efeito e gols. E agora Luan tem a chance de igualar a conquista de seus antecessores, novamente com a camisa 7.

“Com essa camisa 7 do Grêmio comecei minha carreira, basicamente. Fiz meu nome no Brasil e no Exterior. Tudo o que eu tenho na minha vida devo à camisa número 7. Por onde passei, usei. Ganhei muita coisa no futebol e graças ao número. É meu número da sorte” (Renato Gaúcho)
“O Renato com certeza jogou mais que eu, e eu, com certeza, joguei mais que o Luan. Mas o Luan, com certeza, pode jogar mais que os dois, porque tem tempo para isso” (Paulo Nunes)
“Aqui no Grêmio é a 7 que ficou marcada, pelos jogadores que conquistaram os títulos, Renato, Paulo Nunes. Brinco com o Renato, quero fazer um pouquinho da história que ele fez, conquistar títulos. Fico muito feliz de ter esta responsabilidade de vestir essa camisa” (Luan)

Currículo de 7

Principal jogador em 1983, na conquista do título e depois do Mundial, Renato tem o número 7 até hoje como número da sorte, assim como Paulo Nunes, que foi menos protagonista em 1995 – afinal, havia Jardel. Mas que teve papel igualmente de ídolo pela sua vertente irreverente, próxima da personalidade de Renato e Luan.

Renato Gaúcho comemora um dos gols no Mundial Interclubes de 1983 (Foto: Divulgação / Grêmio)
Renato Gaúcho comemora um dos gols no Mundial Interclubes de 1983 (Foto: Divulgação / Grêmio)

– O Renato foi um cara que fui fã e depois joguei no Flamengo com ele. Várias vezes o imitei quando jogava nos juniores, usava meia baixa, o cabelo grande. Era um cara que eu me espelhava como atleta. A qualidade desses jogadores faz com que as diferenças sejam muito poucas. A gente brinca que o 7 é o craque do Grêmio – recorda Paulo Nunes.

A dupla, porém, ficou mesmo marcada na história gremista pelas conquistas. Se Renato não fosse autor dos dois gols do Mundial, pós-Libertadores em 83, talvez não recebesse a mesma idolatria nos dias atuais. Paulo Nunes tornou-se o “Diabo Loiro” ao lado de Jardel na conquista da América em 1995, com direito a gols na final e semifinal, e também foi o artilheiro do Brasileirão de 1996, conquistado pelo Grêmio. É o que persegue Luan.

– Conquistar os títulos é o mais importante, é o que fica. Claro que é importante para mim fazer gols, mas acho que tendo título fico marcado na história. É um clube que amo, me deu oportunidade e quero retribuir e entrar para a história – afirmou Luan.
Renato tem com o manto tricolor o título da Libertadores e do Mundial em 83, como protagonista máximo, e dos Gauchões de 85 e 86. Como treinador, levantou a Copa do Brasil do ano passado, além de um dos turnos do Gauchão de 2011. Paulo Nunes conquistou a Libertadores de 95, o Brasileirão e a Recopa Sul-Americana em 96 e a Copa do Brasil de 97, além dos Gauchões de 95 e 96. Luan tem no currículo a Copa do Brasil de 2016, mas quer mais.

Personalidade de 7

O hoje treinador deixou o campo expulso na vitória por 2 a 1 sobre o Peñarol, no Olímpico, na final da Libertadores de 83, dedos em riste com o placar bem aos olhos dos uruguaios furiosos. Luan, após a conquista da Copa do Brasil ano passado, desabafou por 8 milhões de gremistas e xingou Eduardo Sasha, que havia provocado o Grêmio meses antes com uma valsa, em alusão ao jejum de 15 anos sem títulos do clube. Paulo Nunes anotou de bicicleta em um Gre-Nal, em 96, e imitou o Saci, mascote do Inter, em frente a um mar vermelho no Beira-Rio.

– Isso eu tinha, era abusado. O Paulo Nunes tinha, o Luan tem. E isto é fundamental. A coragem, porque tem que ser abusado no futebol, principalmente sendo atacante. Dentro da área do adversário tem que ser abusado. Não canso de falar: “Pode tentar o drible, cinco, seis vezes, mesmo perdendo a bola” – exalta Renato.

Paulo Nunes fez gol de bicicleta em Gre-Nal e imitou saci na comemoração (Foto: José Doval/Agência RBS)
Paulo Nunes fez gol de bicicleta em Gre-Nal e imitou saci na comemoração (Foto: José Doval/Agência RBS)

– Acho que, como eles, eu também não tenho medo de tentar jogada, tento fazer o que o treinador pede. A gente tem essa ousadia em comum – completa Luan.

Paulo Nunes, na campanha da Libertadores de 95, foi o vice-artilheiro da competição com cinco gols. Renato fechou a edição de 83 com duas bolas na reder. Luan, atualmente, acumula sete gols e é o goleador do time na Libertadores. Na semifinal, anotou dois na vitória por 3 a 0 sobre o Barcelona, em Guayaquil, e mostrou cada vez mais sua importância para o time. Tímido, vai de encontro aos temperamentos explosivos de seus antecessores. Algo que, segundo Paulo Nunes, ajuda o time.

– Ele (Luan) é mais pacato. Já eu e o Renato éramos mais loucos, explodíamos mais rápido, tínhamos o temperatmento mais forte. Ele é mais sossegado, e isso faz com que a equipe fique mais tranquila. Às vezes, confundem a calma dele com sono, preguiça, mas não tem nada a ver. E a coroação vai vir com esse título da Libertadores – destaca o “Diabo Loiro”.

Importância de 7

Luan dá ritmo ao time do Grêmio pelo meio, se aproxima de todos os seus companheiros. É, em sua essência, um conector de todos os setores. A bola está na direita, lá vai Luan se aproximar de Edílson e Ramiro, ajudar a encontrar espaços. A jogada envereda para o canto esquerdo, onde estão Fernandinho e Cortez, e lá está o camisa 7. Figura central do ataque, atrás de Lucas Barrios, circula com a liberdade por vários setores do campo. Poderia muito bem vestir a 10, mas optou por transformar a 7.

Luan marcou duas vezes contra o Barcelona-EQU (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)
Luan marcou duas vezes contra o Barcelona-EQU (Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG)

Em suas épocas, Renato e Paulo Nunes eram mais atacantes pelos lados. Pontas, atuavam em busca do cruzamento para os companheiros na área. Claro, também tinham o faro de gol aguçado. Hoje, Luan é mais um meia.

– Eu admirava a coragem do Renato, de ir para cima do marcador. Ele era alto, forte. Eu era leve, magrinho, apanhava muito mais. Mas nunca tivemos medo dos zagueiros. Usava a velocidade como minha maior arma. Fui muito mais artilheiro que o Renato. Hoje, o Luan é um meia, tem uma maneira de jogar totalmente diferente de mim e do Renato, soube se modificar dentro de uma partida – comenta Paulo Nunes.

Cada um a seu estilo, Renato e Paulo Nunes marcaram época no Grêmio com títulos. Atual técnico, o ídolo tricolor tirou da cartola um cruzamento acossado por dois marcadores, em poucos metros de gramado, para colocar na cabeça de César o título da primeira Libertadores. Paulo Nunes formou com Jardel uma das duplas de ataque mais completas da história azul, preta e branca. Resta saber o que o destino reserva a Luan a partir desta quarta-feira.

Fonte | GloboEsporte

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